Peru (4) – Nasca

Saindo pela tarde de Paracas, continuamos a peregrinação em território peruano pela Cruz del Sur (a companhia de ônibus, lembra?) com destino à cidade de Nasca. A viagem nem demorou muito, estávamos cansados, morrendo de sono e quando percebemos já tínhamos chegado a mais uma cidade do desértico litoral da região.

Não sei como, mas dentre as centenas de fotos da viagem, não achei nenhuma da cidade mesmo. Da Plaza de Armas onde ficam os principais restaurantes, hostels etc. Nasca não é bem uma cidade bonita, quer dizer, as ruas estavam muito mal cuidadas, uma das avenidas principais era poeira pura e o alérgico que vos fala não curtiu muito essa parte. Mas ainda assim, a praça é muito charmosa e tudo remete aos desenhos das famosas linhas feitas há centenas de anos ao redor da região. Acima, uma foto do restaurante que visitei algumas vezes pra comer o delicioso chincharrón! Esse prato aí foi um erro, haha, pensamos que seria praticamente um churrasco e quando vimos… bem, as caras condenam.

A principal atração, sobrevoar as linhas de Nasca, requer uma ida ao pequeno aeroporto da cidade. Na verdade, acho que a única pista é apenas para aviões de pequeno porte, como nesse em que voamos, de uns 8 lugares (incluindo piloto e co-piloto). Dá pra ver tudo que acontece, o piloto conversando com a torre, a operação pra levantar vôo e tal, é bem legal. Quer dizer, quem tem um pouco de medo não vai gostar muito por que parece uma caixinha voando de tão apertado e dá pra sentir o menor movimento – qualquer que seja.

Depois de alguns minutos de vôo, já é possível perceber a genialidade do povo que vivia na região. As primeiras linhas aparecem e é MUITO emocionante. Infelizmente, como é um passeio muito curto (e caro, perto de 120 dólares) o roteiro já é pré-estabelecido e um viajante mais atento vai perceber que algumas imagens menores e outras linhas não são contempladas. Ainda assim, vários desenhos são nitidamente visíveis com o do astronauta, do macaco, do condor, entre outros.

Outra coisa chata: se você fica facilmente enjoado vai simplesmente colocar tudo pra fora (portanto, evite tomar um café realmente reforçado antes do passeio). Para que os passageiros possam ver exatamente de que desenho o piloto fala e sobrevoa, ele inclina o avião (MESMO) e aponta a asa para dar um tempo de apreciar e tirar fotos. Chega a ser divertido a loucura de tentar ver o desenho, arrumar o zoom, tirar foto, ver de novo, novamente arrumar o zoom da máquina e tirar dezenas de fotos da mesma linha pra tentar algo que valha à pena.

Um abraço pra Raquel que visitou a enfermaria do aeroporto, hehehe… brincadeira à parte, Nasca ainda tinha mais passeios interessantes! Nosso guia, Marquito, nos levou para conhecer um sítio arqueológico em que várias pirâmides e templos estão sendo escavados e descobertos no meio do deserto de Nasca. É impressionante o tamanho do lugar e o tanto que ainda falta ser analisado por arqueólogos e historiadores que infelizmente não podem manter a pesquisa o ano todo por falta de recursos financeiros.

Para chegar às escavações, que ainda não estão completamente abertas ao público, fizemos um off-road que só quem realmente conhece a região poderia fazer. Andamos literalmente no meio do deserto durante uns bons 20 minutos até chegar ao local, que fica dentro de uma fazenda ou algo assim. De lá seguimos para outras construções fantásticas: os aquedutos. Foi muito impressionante ver como os caras sacavam a questão do terreno, do clima etc. Eram exímios engenheiros hidráulicos e conseguiam abastecer toda a região com água para tudo que fosse necessário. As construções continuam de pé, lado-a-lado com fazendas da região que permitem a entrada se você estiver com um guia (que já devia ter arranjado tudo) ou pagando alguma quantia que a gente não soube quanto era.

Esse é um dos pontos mais fundos que a gente viu. pra ter noção do quão profundo ele era, ficamos três de nós em pé ao longo do caminho que leva à passagem da água. São vários tamanhos que permitem a inclinação da construção para que a água possa correr livremente e chegar aonde é previsto – simplesmente genial! Dá pra perceber pela foto alguns outros pontos do aqueduto, onde parece haver buracos com pedras em volta, isso forma o caminho por onde passa a água até chegar nas plantações. Saindo do aqueduto, Marquito nos levou para conhecer a família que cuida da restauração de peças originais dos museus do país. O trabalho é todo manual e usa instrumentos típicos, muito legal.

Por fim, seguimos para conhecer como era (e ainda é, de certa forma) extraído o ouro e a prata da região. Conhecemos um antigo minerador que fez de sua casa um museu aberto, loja (a gente queria levar tudo, hahaha) e mini-mina de extração e processamento. Valeu à pena demais, deu pra conhecer bastante da cultura local no passeio, além da história da região e do povo que lá morava. Nasca é simplesmente imperdível.

E de lá, nos arrumamos para o principal destino: Cusco! A cidade mais fascinante que já conheci… em breve! :D

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Peru (3) – Paracas

Continuando nossa viagem pelo Peru, pegamos um ônibus de Lima para Paracas pela viação Cruz del Sur ainda de madrugada – que durou por volta de 4/5 horas. Chegando na cidade, nossa guia já nos esperava e começamos os passeios. Não há muito para conhecer, mas já aviso que vale bastante à pena.

Inicialmente pegamos uma lancha e começamos a correr em direção às Ilhas Ballestas. A primeira atração no caminho é o “Candelabro”, uma formação pré-colombiana que o guia disse não haver explicação de como nem quando foi feita – um mistério fantástico, dou certeza. Não é à toa que virou praticamente um símbolo informal da cidade, presente em diversos souvenires dispostos nas banquinhas e pequenas lojas. Fica a dica que a cidade não tem NADA além da orla com restaurantes e alguns hostels, alguns ainda em construção, inclusive.

Continuando o passeio, quem gosta de turismo ecológico vai adorar. Não é meu tipo de programa favorito, mas ainda assim gostei bastante.  O legal é que a gente vai para a Reserva Nacional de Paracas de lancha e não precisa ficar andando durante horas, hehehe… O guia vai mostrando tudo e explicando cada coisa, especialmente sobre os animais. São diversos tipos de pássaros, motivo pelo qual temos que andar de boné para não recebermos presentinhos mal-cheirosos na cabeça (já que o ambiente por si só fede horrores!), leões-marinhos e PINGUINS! Cara, eles são muito divertidos, hahaha… a raça Humboldt é a mais presente, mas isso não faz muita diferença para nós leigos, faz?

Alguns itens são essenciais para “sobreviver” a Paracas: MUITO protetor solar, boné, óculos escuros, roupas largas e confortáveis e até mesmo um cachecol para cobrir a boca e o nariz quando for andar pelo deserto ou de lancha. Faz muito sol e venta muito, por isso o calor pode não parecer tão forte, mas o sol faz um estrago na pele de quem não se protege adequadamente. Ficamos queimados por uns cinco dias, para mais.

Ainda na Reserva de Paracas, visitamos um museu que mostra como a região (hoje praticamente um deserto) era antigamente: uma enorme floresta tropical. Há amostras de solo e de como falhas geológicas moldaram a região no que tornou-se hoje. Daí, a gente viu alguns flamingos pelo binóculo, visitamos uma formação rochosa chamada de “Catedral” que foi parcialmente destruída em um dos últimos terremotos do país e paramos para almoçar no meio do nada – é tudo meio corporativo, os guias já levam para onde querem, os caras já sabem e os preços acompanham a brincadeira, hehe. A sorte é que dezembro é baixa temporada (?) e tudo tem promoção ou é negociável. Vale lembrar que Paracas é um grande sítio arqueológico, perto de Nasca e com locais de preservação para pesquisas.

Por fim, morremos de sono na pracinha da cidade e esperamos pelo nosso ônibus já que não há mais nada para fazer a não ser comer – o que não é ruim, né? A próxima parada é um dos lugares mais lindos que já conheci: Nasca!

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Peru (2) – Lima

Continuando a série de posts sobre o mochilão no Peru, falarei hoje de Lima. Ficamos na região de Miraflores e só tenho a recomendar sobre o lugar, é bonito, parece ser seguro e tem muitos restaurantes, bares, cafés e agências de viagens (o que é um fator importante nessa viagem). Lá é onde fica a Plaza de Armas, algo que praticamente toda cidade peruana que visitamos também tinha, como se fosse um centro informal de lazer e encontro.

Hospedamo-nos no hostel chamado Loki, quando chegamos no dia 10/12 bem tarde, lá pelas 23:00/00:00. Fizemos o check-in, deixamos a mala no quarto (que tinha as exatas quatro camas de que precisávamos, portanto, era praticamente um quarto fechado só para nós) e descemos para o bar. Olha, eu já fiquei em muitos hostels de cidades brasileiras e fora do país, mas esse primeiro dia no Peru já ia dar os sinais das festas no país. Os estrangeiros são simplesmente insanos, bebem MUITO e se jogam de todas as formas possíveis. Depois de duas garrafas, eu e uma das amigas que me acompanhavam decidimos ir pra balada de Lima. Não me perguntem como chama o local, não faço a menor ideia (lembro que fica na parte baixa do Larcomar), até por que bebemos mais margaritas, sex on the beach e cosmopolitans – sem contar as cervejas -, então dá pra imaginar como ficamos. Isso por que tínhamos viajado o dia inteiro antes :P

Ficamos por mais dois dias, nos quais fomos conhecer a cidade e comprar nosso passeio Paracas-Nasca-Cusco. Conhecemos as praças, museus e catedrais da cidade. Valem muito à pena e são todos maravilhosos. O estilo colonial e a influência espanhola deixaram grandes prédios na região histórica da cidade – vale à pena pegar um taxi e negociar o valor antes de sair, sempre fica MUITO BARATO! Recomendo conhecer as catacumbas (foto acima) que ficam debaixo da catedral e tem visita guiada. Já o Museu da Inquisição e do Congresso é uma furada, além de ser chato, a guia que nos acompanhou parecia estar de ressaca/sono/preguiça, sem contar que por ser de graça fica lotado e com dezenas de pessoas empurrando tempo todo.

Recomendaram-nos que comêssemos o tal de chifa, uma das comidas típicas do país. Trata-se de uma mistura entre comida oriental e peruana que, pra ser bem sincero, é péssima! Quer dizer, não sei se demos azar de entrar em um desses restaurantes ruins ou se a comida que é realmente ruim. Mas é aquele negócio: se está lá, tem que experimentar de tudo!

Pelo menos, para compensar comemos em vários outros lugares que nos serviram pratos excelentes. No shopping/galeria Larcomar, por exemplo, pedimos sobremesas fantásticas – acompanhadas de um visual maravilhoso, com todo o Oceano Pacífico à nossa volta. Outro lugar legal para comer é o Sandwich.com que faz sanduíches caseiros, o bife é fantástico, o molho é delicioso, tudo é bom nesse lugar. Abaixo, uma foto de um dos pratos que pedimos.

Para fechar, visitamos um lugar fantástico, o Parque das Fontes. Disseram-nos tratar do maior parque do tipo que existe no mundo, e não duvido. Nunca vi tantas fontes e tão grandes, sem contar a diversidade de efeitos colocados – uma delas tinha Vivaldi ao fundo, enquanto outro era um labirinto por onde as pessoas brincavam de não se molhar (obviamente não eram bem sucedidas, hehehe), outra que fazia um arco e podíamos passar por baixo, etc. Valeu muito à pena visitá-lo, é o lugar mais bonito de Lima, sem dúvida – é uma visita noturna, fica a dica.

Depois de duas noites, embarcamos de madrugada para Paracas, parte que conto no post a seguir.

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Peru (1) – Lima, lá fomos nós!

Em dezembro do ano passado, depois de meses de longa e ansiosa espera, viajei para o Peru com três grandes amigas (Amanda, Raquel Leite e Raquel Saleh) para um mochilão de duas semanas. A primeira dica que fica de todo o processo que culminou em nossa saída de São Paulo no dia 1o/12 é: compre com MUITA antecedência as suas passagens aéreas. Demoramos um pouco para comprar e por isso o preço já estava meio salgado, mas nada que atrapalhasse o planejamento inicial. Definimos o roteiro algumas semanas antes de viajar, mas acabamos alterando um pouco, tendo ficado da seguinte forma: Lima – Paracas – Nasca – Cusco – Aguas Calientes – Machu Picchu – Cusco.

10/12 – São Paulo: nosso avião saía bem cedo, então optamos em pegar um taxi de onde estávamos (perto da Paulista) diretamente para o aeroporto de Guarulhos, o que ficou mais barato que pegar aquele ônibus que sai da República. A outra opção, pegar o ônibus de linha que sai do metrô Tatuapé, não era viável por causa do horário que saíamos (metrô ainda não funcionava) e pelo peso das malas.

Guarulhos não estava lotado e tanto o despacho quanto o embarque foram bem tranquilos. Nosso voo saía de São Paulo para Lima com conexão em Santiago por umas boas horas (leia-se ficar parado umas 6 horas aproximadamente), então já fomos preparados para esperar por muito tempo no bonito aeroporto da capital chilena. O duty free desse aeroporto é grande e tem muito mais opções para quem está afim de fazer compras que a volta por Guarulhos – o que é uma verdadeira decepção para os gastadores.

A Raquel L. levou seu netbook e permitiu a todos que mantivéssemos bom contato com o Brasil pelo Skype, além de matar um bom tempo nos saguões de aeroporto – foi o caso de Santiago, onde pudemos acessar a internet por meio do wifi do Starbucks do aeroporto. Mesmo assim, deu pra ouvir música, comer, andar à vontade pelas lojas e descansar um pouco. Um adendo importante: cuidado ao comprar no Chile. O peso chileno usa um câmbio muito diferente do que estamos acostumados, então uma compra por 120.000 pesos chilenos pode parecer 120 dólares no ticket de preço e causar uma enorme dor de cabeça – como aconteceu conosco.

Depois de muuuuuuuito tempo de viagem e três horas diferentes no fuso horário, chegamos a Lima. Para evitar complicações e por não conhecermos a cidade, contratamos um transfer pelo próprio hostel. Saiu muito mais caro do que sairia por uma negociação comum (tema dos próximos posts), mas garantiu uma chegada tranquila, um porta-malas grande e menos cansaço. Enfim, chegamos ao Loki Hostel de Lima :)

No próximo post falo de Lima e de alguns lugares legais que valem a visita!

 

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Entre siglas e partidos

Kassab então enfim conseguiu oficializar a criação de seu partido, o PSD. O vigésimo oitavo partido brasileiro será de “centro”. O prefeito de São Paulo que outrora fazia parte do DEM, de “direita”, agora acena com a possibilidade de se aliar com qualquer um – ouvi alguém espirrar PMDB? Se esse último aí já não estivesse tão lotado de caciques e a concorrência paulista fosse tão grande – além de ter que lidar com a ameaça de perder o mandato e outros poréns do direito eleitoral -, Kassab provavelmente teria ido mesmo ao PMDB. Gilbertinho representa o que há de mais tosco nos nossos políticos: a necessidade de ter cada vez mais poder e nunca largá-lo (em qualquer partido é assim, não me engano). Mas sem projeto, sem definições ideológicas (ainda existem?), apenas a grande permanência no domínio da máquina. São Paulo tornou-se uma cidade melhor com sua gestão? Não. E não consigo enxergar nenhuma força de representação popular nesse protótipo de prefeito.

Se bem que o caso de Belo Horizonte talvez seja mais emblemático e ainda mais horrendo. Márcio Lacerda subiu ao poder com a aliança nada tácita entre PT (sob a tutela de Fernando Pimentel) e PSDB (nesse caso, Aécio Neves) para que o prefeito do PSB conseguisse se projetar. Definição de ojeriza encaixa nesse acordo de compadres que, com isso, evitaram um outro péssimo candidato (do PMDB) conseguisse se eleger. Hoje, esse mesmo Lacerda mantém boas relações com o governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia (sim, o que se auto-vangloria pelo choque de gestão que congelou os salários dos professores à vergonha nacional), do PSDB, e provavelmente organizam juntos a divisão do controle da mídia estadual. Lacerda é autoritário e péssimo gestor. Não respeita o direito dos cidadãos de se organizarem em movimentos reivindicatórios, libera contratos da prefeitura para a empresa do filho e tem conseguido fazer com que trânsito da capital mineira pareça ser dez vezes pior que o de São Paulo (deu pra ter ideia?). Partido Socialista Brasileiro que tem um prefeito empresário, coisas que a gente vê no nosso país.

Coitado de mim, mineiro morador de São Paulo, que fico entre os dois estados sempre que posso. Ainda espero que Dilma não se coloque do lado desse protótipo de político paulista. É óbvio que Kassab ao se colocar no “centro” busca estabelecer novas alianças e uma aproximação do governo federal – vou passar a ler centro como “apoio a quem der mais ou estiver no poder”. O PT já tem quase uma década de perdas no sentido ideológico, de definição de sua própria identidade. A aliança com o PMDB foi um golpe (dizem que necessário, talvez…) muito forte no estômago de quem acreditava em uma política diferente. Não tenho o mesmo fervor ao defender o Partido dos Trabalhadores, uma ponta de decepção ainda grita no orgulho de ter visto Lula subir ao poder, tirar milhões da pobreza e adotar uma política externa assertiva e condizente com a grandeza no nosso país. Dilma como a primeira mulher no poder tem me parecido mais séria que seu antecessor, e ganhou muito apreço por não permitir que Jobim, por exemplo, lhe faltasse com o devido respeito – e ainda colocou o excelente Celso Amorim em seu lugar.

Tenho receio da possibilidade de descolamento de identidade do PT com a presidente. Ela nunca foi muito forte mesmo, mas as ligações com o PMDB, a presença de Temer e a volta dos que não foram (como Dirceu e companhia) nos bastidores é preocupante. Que representam afinal, os partidos brasileiros?

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O pior Cruzeiro desde…

…nem sei quando. Sinceramente, não me lembro o último ano em que o Cruzeiro disputava apenas o Campeonato Brasileiro e ia tão mal na competição. Não por menos já passaram pelo clube, só nesse ano, Cuca, Joel Santana e o “efetivado” Emerson Ávila. Acho que ninguém sabe explicar por que Cuca deu tão certo ano passado, sendo vice-campeão, e na fase de grupos da Libertadores em que ganhamos praticamente todos os jogos e com goleadas sobre times como o Estudiantes, rival desde 2009. Depois da estranha eliminação pelo Once Caldas em casa, o time desandou. Ganhamos o Campeonato Mineiro sobre o pequeno time de Vespasiano e isso talvez tenha deixado uns ou outros felizes – mas sinceramente: esse campeonato realmente vale alguma coisa?

Depois de um péssimo início de Brasileiro, Cuca pediu demissão e Joel assumiu. Acho que o grande erro do ano – entre diversos – foi esse: contratar Joel. O Cruzeiro nunca foi um time retranqueiro, mesmo na época de três volantes com Adilson Batista (que dessa forma soltava e bem os laterais, que apoiavam bastante o ataque), mas com Joel o time perdeu poder de fogo e o ataque foi completamente deixado de lado em detrimento da defesa, de não tomar gol a qualquer custo. A instabilidade desse péssimo treinador, provavelmente desacostumado com tantas regalias e uma estrutura tão boa (afinal, treinar time carioca não serve de parâmetro para qualidade de CTs, mesmo que não haja causalidade entre isso e a posição na tabela, vide a classificação atual do Brasileirão), custou ao Cruzeiro uma posição desagradável em que não se briga por nada e começa a se especular o medo da zona do rebaixamento, algo extremamente incomum e improvável para os torcedores celestes.

Bem, Joel saiu. Menos mal, mas Ávila não foi uma boa opção. Não tiro os possíveis méritos que o treinador possa ter no futuro, quando tiver adquirido maior experiência, tiver um elenco realmente adequado, etc. Mas a situação atual exige um cherifão, alguém que imponha respeito e cobre dos jogadores atuações que sejam condizentes com a história do Cruzeiro – e com seus enormes salários. O atual treinador cruzeirense também não deu sorte, vejamos o elenco:

Goleiros: Fábio é incontestável – mesmo quando erra ainda é perdoado por que tem muito crédito. É provavelmente o melhor goleiro em atuação no Brasil. Rafael ainda é muito jovem e teve atuações regulares, mas como ocupou o cargo de titular por mais de uma vez seguida, parece que a ansiedade pelo menos passou e tem feito defesas importantes. É um bom reserva, mas no máximo isso. Douglas Pires é o terceiro goleiro, mas a opinião de muitos cruzeirenses é de que Gabriel deveria ocupar seu lugar pela atuação que teve no Mundial Sub-20 (e eu me incluo nesse grupo). Quando Fábio é titular, o Cruzeiro está muito bem servido, o problema é a sua falta – como nas atuais convocações para a Seleção e recente contusão.

Zagueiros: Victorino é titular absoluto, não há zagueiro melhor em todo o plantel do Cruzeiro – e por isso mesmo, o time sofreu com sua falta durante a Copa América, quando defendeu a vitoriosa seleção do Uruguai. É uma pena que tenha se machucado ainda durante a Copa América, e fica a torcida para que fique pronto para voltar ao campo o mais breve possível, está fazendo muita falta. Léo e Naldo eram reservas de Victorino e Gil (que vinha atuando bem e foi vendido – que novidade! – para o Valenciennes da França), então nem preciso dizer que como dupla titular estão fazendo um péssimo papel, com atuações sofríveis. Especialmente Léo, de quem esperava mais por que ano passado cobria bem quando necessário; Naldo veio da segunda divisão do Brasileiro e não tem capacidade de ocupar a titularidade, apesar de ter feito um ou outro jogo bom. Cribari que jogou sempre no futebol italiano estreou com a camisa celeste contra o Figueirense e decepcionou, tendo sido responsável por dois dos quatro gols sofridos, mas como jogou apenas um jogo ainda é cedo para avaliar sua verdadeira condição.

Lateral-direito: Vitor e Gil Bahia. O primeiro nunca mereceu a titularidade e mal serve para ocupar a vaga por falta de outro. Gil Bahia vem da base do Cruzeiro e sempre que entrou mostrou muita raça e vontade de mostrar bom futebol, pode ser uma aposta – no futuro, sacrificar os meninos da base em uma situação ruim acho que só prejudica o time e o jogador.

Lateral-esquerdo: Diego Renan e Gabriel Araújo. Aquele é chamado de Avenida Diego Renan por ter a característica de subir demais para o ataque e não voltar para a marcação, deixando um espaço livre de atuação dos adversários. De altos e baixos, quando quer jogar bola mostra-se uma boa opção – mas sempre com um volante para garantir a marcação nos espaços deixados. Gabriel Araújo é outro que vem da base e é o mesmo caso de Gil Bahia, não dá para avaliar se será um bom jogador no futuro.

Volantes: Charles voltou esse ano depois de um acordo com o Santos, enfim um bom jogador que veio esse ano para o Cruzeiro. Já jogou no time alguns anos atrás e sempre foi bom jogador, mesmo quando mediano, pelo menos não deixa de fazer o que lhe é requisitado – marcar bem e tocar a bola para os meias (inclusive, já fez gols esse ano). Fabrício é um excelente jogador, marca bem e tem raça, além de ser considerado ídolo por muitos torcedores e ter criado vínculo com o clube. No entanto, é um pouco explosivo e perde a paciência de vez em quando. Quando está com a cabeça no lugar e joga o que sabe, é sempre boa opção para a titularidade. Leandro Guerreiro também é da fase de “renovação” do Cruzeiro e, ao contrário do que muitos pensavam (eu incluso), tem feito boas atuações. Começou jogando mal, instável, mas depois pegou ritmo e tem jogado bem, marcando com seriedade e sem subir demais e deixar espaços para os adversários. Marquinhos Paraná é da época “antiga” do time, assim como Fabrício veio junto de Adilson Batista e ficou. Cone Paraná, não é dos melhores e já tem idade avançada para o futebol. Por mim, ocuparia a reserva e entraria se necessário ou para improvisar em alguma posição, única coisa que sabe fazer mais ou menos. Everton é o provavelmente o pior jogador de todo o time, não sabe marcar direito, deixa muito espaço, sobe demais e não volta, enfim… ninguém sabe bem o que faz no Cruzeiro, já passou da hora de ser dispensado. Éber vem da base, mas quando entrou não mostrou bom futebol, é outro que só resta torcer para que melhore com o passar do tempo.

Armadores: Montillo é o craque do time. O argentino, para mim, tem jogado mais que qualquer outro meia do país – lembrando que Ronaldinho Gaúcho tem atuado de atacante. Coitado dele que não pegou a fase de 2009, poderíamos ter sido campeões da Libertadores se fizesse parte daquele time… vide ano passado em que foi um dos principais responsáveis pelo vice-campeonato. Se não fosse por ele, provavelmente estaríamos em posição ainda pior na tabela. Roger deu certo no Cruzeiro. Falam mal dele de passagens em outros times, mas o cara tem entrado bem na maioria dos jogos. A formação de dois armadores, quando esses dois jogadores jogam juntos, costuma dar mais certo que quando um deles apenas atua na posição – pena que Joel não via isso e Ávila não tem conseguido emplacar um time completo em nenhum jogo. Gilberto é um armador que pode ser improvisado na lateral, e é uma pena que praticamente NENHUM técnico faça isso apesar dos problemas na posição. Apesar da idade, joga com muita raça e é bom jogador. Ultimamente tem ficado meio reclamão, fala mal da arbitragem em todos os jogos, mesmo quando está errado, talvez seja mesmo a hora de aposentar.

Atacantes: Bruninho é meia-atacante da base, mas ainda não teve oportunidade de mostrar se realmente pode ocupar a posição e ser uma revelação do time. Wellington Paulista nunca foi consenso no time, apesar de ter feito boa dupla com Kléber nos anos anteriores. Voltou ao Cruzeiro depois de não ter feito NADA no Palmeiras, mas parece que continua da mesma forma e já machucou – não fazendo NADA pelo Cruzeiro. Farías é um bom jogador de área, mas depois que Adilson saiu nunca mais foi realmente aproveitado. Na verdade, a diretoria espera por uma proposta pelo jogador já que o alto salário não compensa sua falta de aproveitamento – uma pena, já que os atuais atacantes não tem dado conta do recado e ele poderia ser uma boa opção. Wallyson era o único atacante que realmente jogou bem esse ano, mas infelizmente machucou e só volta ano que vem – quando a fase é ruim… não há azar que termine, só resta esperar mesmo. Anselmo Ramón só não é pior que Everton – por que seria necessário muito para tanto -, mas é um péssimo atacante. Os gols que o cara perde são inacreditáveis, não é possível que ele realmente ache que possa atuar na posição de um time grande como Cruzeiro, passou da hora de ser colocado na reserva, ou melhor, dispensado. Sebá é da base e já fica na reserva há um bom tempo. Entrou várias vezes, mas nunca foi decisivo. Começo a me perguntar que trabalho tem sido feito na base para que não consigamos emplacar nenhum atacante decente. Outro que por mim seria dispensado. Ortigoza é um bom reserva e nada mais, não consegue atuar bem como titular, tem raça e nada mais, um gol aqui e outro ali não resolvem o problema do time. Bobô chegou e até agora não fez nada que prestasse (leia-se: gol). Sua redenção no futebol brasileiro poderia ser no Cruzeiro, mas ele não parece muito interessado, outra contratação ruim. Keirrison que foi o maior artilheiro do Brasil em 2009, nunca mais repetiu as boas atuações de quando jogava no Coritiba. Foi comprado pelo Barcelona, jogou na Espanha, passeou pela Itália e voltou para cá. Mesmo caso de Bobô, ainda não mostrou a que veio, mas se resolver voltar a jogar como já fez um dia, pode ser útil – o problema é que não dá para esperar mais.

Dá pra ver a situação do time… que tristeza! Wallyson machuado, Thiago Ribeiro VENDIDO, Henrique (que vinha jogando MUITO) VENDIDO E PARA O SANTOS, Gil VENDIDO… e dos que vieram, só Charles realmente tem jogado bem. Nos faltam laterais nas duas posições, pelo menos mais um bom zagueiro enquanto Victorino não melhora, e mais um bom atacante, desses matadores. Por fim, um bom técnico, alguém que já tenha currículo, bagagem, etc. Torcer para o Cruzeiro pelo menos ficar numa posição melhor, menos medonha (isso é lugar para o pequeno time preto e branco do outro lado da Pampulha) e ano que vem ganhar a quinta Copa do Brasil, é isso que provavelmente nos resta. Haja paciência!

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10 anos do 11 de Setembro

Compilando alguns comentários sobre o 11 de Setembro que postei no Facebook em conversa com amigos interessados no tema (quem sabe não me servem de inspiração para algo maior à frente? afinal, meu TCC, artigos publicados e futura dissertação são baseados na política externa dos EUA especialmente depois do 11/09):

“impressionante como uma “ameaça” de terrorismo muda toda a rotina de uma cidade. NY escolheu trocar liberdade por segurança, essa neurose que é transmitida pela TV e pelas notícias na internet parecem um mundo orwelliano – câmeras e revistas por todos os lugares e o “perigo” constante da “ameaça” exterior…”

“esse negócio de cores relacionadas à possibilidade de ameaça foi uma das ideias mais “geniais” no sentido de aumentar a neurose. é de fácil entendimento, resgata rapidamente o medo relacionado a eventos passados e deixa todo mundo esperando um pronunciamento horroroso. haja remédio pra ansiedade.”

“acho que tanto o ponto de Orwell em 1984 quanto do 11 de Setembro são ameaças construídas sem parar, na mídia o tempo todo, que “bombardeiam” o cidadão constantemente. a “ameaça” terrorista é muito menor e menos provável do que se possa acreditar ou dizer, simplesmente por que se um atentado ocorrer nos EUA da forma como foi no 11 de Setembro, será mais um evento que terá acontecido independente de qualquer risco que possa colocar. quando os EUA falam de uma “guerra ao terror”, o inimigo não existe de fato, ele é construído de acordo com o contexto, com as circunstâncias, da mesma forma que o inimigo em 1984 – ora a Lestásia, ora a Eurásia, ninguém sabe ao certo. Tanto Bin Laden quanto Kadafi quanto Saddam já foram “aliados” e se tornaram “inimigos” e “ameaças”, portanto, perigo real existe – está em qualquer lugar a qualquer momento, e nem por isso a neurose nos assombra nesses mesmos momentos e lugares -, mas a “realidade perigosa” de que tratam os EUA, nesse caso, é muito mais uma construção que algo determinado e fixo.”

“não é teoria da conspiração. não disse que o 11 de setembro não existiu nem que algo foi forjado. não há como fazer pesquisas sérias levando em conta apenas suposições conspiratórias – não entro no mérito delas. o que levo em conta é que a construção da realidade e das “ameaças” é algo muito mais sutil e que envolve interesses maiores que apenas a dita “segurança nacional” – outro termo recorrente no assunto que volta e outra assume conotações de acordo com o contexto.”

“como disse Orwell: “guerra é paz; liberdade é escravidão; ignorância é força”. quando os americanos apoiaram bush na sua “guerra ao terror”, abriram mão da liberdade para ter maior segurança, preferiram a guerra a fim de atingir a paz e ignoraram questões constitucionais para dar maior força ao presidente pelo ato patriota e outros organismos governamentais. orweel nunca esteve tão presente, hehe…”

“autodefesa em relação a quem? o afeganistão e o iraque foram responsáveis pelos ataques? algum outro Estado? ou foi uma dita organização terrorista, um ator transnacional? se for, por que não houve um julgamento, não se levou o tema aos fóruns adequados e acatou-se o que foi decidido – se algo foi de fato? não existe um “terror” para quem se declara guerra, o que é o terror? um instituto, um grupo, vários grupos, um Estado ou vários Estados? quem define o que é terrorismo ou não, e se isso existir, quem faz cumprir decisões contra o que é determinado como tal? agressão pesada, será? o que a turquia fez contra os armênios e faz contra os curdos; os israelenses fazem contra os palestinos; China, Rússia e outros fazem contra grupos menores, etc, etc, etc (sem contar que os EUA foram o único país do mundo a ser condenado por terrorismo estatal quando do apoio a grupos na Nicarágua e ataques aéreos verdadeiramente agressores e pesados) – enfim, por que não se faz nada? por que eles tem o poder de invadir um país chamado de “falido” e “patrocinador” do terrorismo eles PODEM fazê-lo? autodefesa não seria a construção de um mundo mais seguro pelo aumento do comércio e ajuda a países pobres para que todos tenham de fato oportunidades de ver que o que os EUA defendem pode ser algo a ser copiado (o que eles chamam de democracia, liberdade, etc.) como já foi feito por exemplo em relação à França Revolucionária? discordo das invasões nesse sentido, ninguém pode falar como governar um país, qual regime é melhor e quais ideias são superiores – isso, além de tudo, é etnocentrismo.”

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7 meses e 9 dias na maior cidade do Brasil

 

Estou reaprendendo a gostar de São Paulo. Como bem disseram, a adaptação é longa mas vale à pena. O stress é constante, as pessoas não tem muito tempo para serem educadas e a foto acima mostra como fica o metrô na hora do rush. Ainda assim, tem se tornado divertido ver as peculiaridades da cidade: os bares-lanchonetes que tem o mesmo painel – apenas com o nome diferente -, as rodas de samba em plena Liberdade, a variedade gastronômica… está melhorando.

As baladas são fantásticas. É sério, os lugares são muito bonitos, as pessoas se vestem muito bem e o ambiente todo costuma ajudar – inclusive a música, até hoje não fui a nenhuma balada que tocasse música ruim. As filas são chatas, então o negócio é aprender a lidar com elas: ou chegar MUITO cedo ou chegar MUITO tarde na balada. Nesse caso, vale à pena qualquer um dos dois, o primeiro garante balada vazia, sem fila e a liberdade de dançar à vontade; o segundo garante um esquenta logo e animado em casa ou em algum dos milhares de bares legais da Augusta e região para enfim se acabar na pista.

A cidade transpira cultura. Movimentos sociais dialogam entre si na internet o tempo todo e marcam passeatas, marchas e encontros por toda a cidade, especialmente no vão do MASP. Na foto acima dá para ver o começo do que foi a Marcha da Liberdade há algumas semanas em São Paulo, baseada na diversidade de diversos grupos e movimentos. Dezenas de teatros, opções culturais gratuitas e museus interessantes recheiam essa mistura.

Da janela do mestrado, a Sé. É divertido e interessante estudar do lado de um dos cartões postais da cidade. Vê-se de tudo: pregações sobre o fim do mundo, dezenas de indivíduos vendendo e comprando prata e ouro, muitas lojas de departamento, bancas que oferecem de tudo e todo o tipo de contravenção nas vielas e ruas paralelas à praça (quem diz que não, é cego ou não admite). Mesmo assim, butecos charmosos e música animada costumam marcar a região à noite, de segunda a domingo – e é um convite a um happy hour diferente.

我爱 巴西。Ou, “Eu amo o Brasil”, das aulas do Instituo Confúcio, que também funciona no mesmo prédio do mestrado, esse que dá uma vista interessante para a Catedral da Sé. Estudar mandarim é outra peculiaridade de São Paulo, afinal, trata-se de um local específico de cooperação com o governo chinês e que só agora começa a pensar em passar para outras cidades do país (apesar de já ter em algumas como Porto Alegre, se não me engano).

Enfim, São Paulo está me conquistando. Aos poucos, mas está. Vejamos o que mais a terra da garoa tem…

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O bullying é o que fazemos dele

Fico pensando em como o bullying sempre existiu e ninguém praticamente nunca deu a mínima. Se o post parecer um pouco auto-biográfico é por que talvez realmente o seja. Acho que no Brasil esses lugares comuns de povo tranquilo, pacífico e tolerante ajudou a tapar os olhos para o que sofre um grande número de crianças e adolescentes do país. E não digo que as crianças são malvadas (os adolescentes podem ser sim), mas considero que as pequenas ações preconceituosas e intolerantes que vão surgindo na tenra idade são reflexos da influência dos pais – retrógrados e conservadores, gente que não soube lidar com as diferenças e passou essa mesma experiência aos filhos.

As diferenças de gênero, sexualidade, cor de pele, timbre de voz, estilo musical, sociabilidade e qualquer coisa que se queira colocar numa relação de alteridade fazem com que muitas crianças e adolescentes sofram diariamente. E não é um sofrimento infantil, passageiro, é algo que consegue destruir a auto-estima de qualquer indivíduo, que cria traumas que permanecerão pela vida inteira se não forem devidamente cuidados. O clima de competição típico das sociedades ocidentais só acirra essa necessidade de ganhar e não apenas ganhar, mas vencer sobre o outro, ter certeza da derrota alheia, da humilhação. Penso eu: que mundo nojento é esse que construímos e aceitamos? Mais ainda, como podem tantos pais aceitar e incentivar esse tipo de prática no cotidiano, com cobranças que não condizem com o que seria um verdadeiro status de bem-estar e felicidade? É muito triste.

Só quem já sofreu o bullying sabe como dói. Ser taxado de algo que não se é ou simplesmente ter características suas tomadas como negativas por que alguém diz que assim é são fatos recorrentes. Acho que pelo menos assumir o sofrimento por esse tipo de coisa pode incentivar àqueles que tem filhos e aos que pretendem ter a ensiná-los a serem mais tolerantes com as diferenças, a respeitar o que não é igual e entender que a beleza do mundo se encontra justamente na diversidade, na cor e na possibilidade de pensarmos diferentes.

Tomar o mundo como um lugar pronto, fixo e sem a possibilidade da mudança é deixá-lo cinza, sem perspectiva e carente de criatividade. Prefiro ver o mundo como uma grande aventura, um grande espaço colorido diariamente, preenchido vagarosamente por bons sentimentos e pela atenção em relação ao outro, pela vontade de ajudar ao próximo. Prefiro acreditar que isso é possível, apesar das demonstrações diárias de ódio e alienação e evitar responder esse tipo de ação com a mesma moeda. Não aceitar passivamente, mas lutar ativamente: esse deve ser o norte de todos que acreditam que as próximas gerações podem se livrar do bullying de seu vocabulário.

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Malos Aires?

E então passei 5 dias em Buenos Aires. Devo dizer que achei a capital argentina superestimada, mais por que se fala demais a fim de exaltar uma viagem específica que se tenha feito do que necessariamente pelas características da cidade. Obviamente, é minha opinião. Não posso me conter em comparar com Santiago, São Paulo e Rio de Janeiro, cidades grandes do continente que conheço e mantém uma certa conexão em algumas áreas.

BsAs é muito bonita, tem avenidas largas, arborizadas e… caóticas. O trânsito daquele lugar é simplesmente insano, pior que do Marrocos, parecido com o que a gente vê em filmes de perseguição policial. Os motoristas não dão a mínima para os pedestres, para a sinalização e para a necessidade de se dar seta quando se tem a intenção de tomar a esquerda ou direita. Isso é muito provavelmente reflexo da própria educação dos portenhos: são extremamente mal-educados, grossos mesmo. Turista para eles parece ser mais um, brasileiro, chileno ou mesmo argentino de outra região. Foram raros os lugares em que fomos (viajei com minha irmã e minha prima) bem recebidos, bem tratados e que tenhamos tido a devida atenção esperada de quem está disposto a conhecer uma cultura diferente e torrar seu dinheiro no estrangeiro.

Os restaurantes são fantásticos, a comida é muito boa. A carne e os vinhos fazem justiça à fama que recebem no nosso país. E o preço é muito bom, se compararmos com bons restaurantes de São Paulo, por exemplo. No entanto, aqueles que falam sobre compras na Argentina estão completamente por fora. Os outlets são ruins, com pouca variedade e os preços não compensam em relação ao que oferecemos por aqui. É perda de tempo parar na Córdoba apenas para conferir os tão famosos outlets, fica a dica. Paradoxalmente, na Rua Florida e na Galeria Pacífico (onde as coisas normalmente são mais caras), achamos tênis e roupas de marca com bons preços, bem mais baratos que no Brasil. Turismo de sacoleira fica pra outro lugar, portanto. Agora, quem quer viajar para comer bem e conhecer belos lugares, é de fato um tiro certo.

Andar de taxi vale à pena pelo preço. Mas só por isso, dá pra fazer turismo pela cidade toda tomando o transporte público. Mesmo assim, os trêns do metrô e os ônibus são feios, antigos e mal cuidados. São Paulo, por incrível que pareça, é muito mais exemplo de conservação que a capital argentina. Mas para por aí, já que o preço do transporte público portenho é irrisório e dá vergonha na mesma São Paulo que abusa dos que necessitam do metrô e do ônibus. Os taxistas não são educados (apenas um de MUITOS respondeu às nossas saudações de bom dia e boa noite) e fazem questão de receber o dinheiro trocado, o que por vezes nos colocou em situações delicadas por que os caixas eletrônicos para cartões pré-pagos só emitiam notas altas.

Hospedar-se em hostels continua sendo uma ótima opção para quem está afim de conhecer gente jovem, saber de lugares para visitar e fazer novas amizades durante a viagem que possam servir de companhia. Ficamos no Hostel Suites Florida e não tenho nada a reclamar. Pelo contrário, o staff (que tinha brasileiros) era muito atencioso (com exceção do atendente noturno, um bruto sem educação) e a estrutura muito boa. O café da manhã segue o padrão dos outros hostels e oferece o básico do básico – nada comparado com aquelas mesas fartas de hotéis. Os quartos são limpos e arrumados diariamente, o local é seguro e as festas no bar/restaurante do próprio hostel foram muito boas.

Digo das festas NO bar/restaurante, por que as festas que o hostel indicou na cidade foram um fiasco. As baladas eram cheias de gente estranha, o cigarro era praticamente liberado (inclusive outras cositas más) e a falta de educação era multiplicada por 10 com empurrões, pisões e falta de espaço. Simplesmente não valia à pena sair à noite em baladas famosas. O segurança de uma das boates deixou passar 5 caras na nossa frente e eu perguntei por que ele fez aquilo, no que me respondeu: “Por que são meus amigos”. Pronto, não precisa dizer mais nada. Mas a vontade que dá é de xingar de todos os palavrões possíveis e imagináveis. Valia à pena sentar em pubs e bares com mesas ao ar livre para tomar um bom vinho e comer alguns petiscos, mas infelizmente só percebemos isso depois de entrar em péssimas baladas, já no fim da viagem. A tão famosa vida noturna de Buenos Aires só deixou a desejar, inclusive me fazendo lembrar de como eu sinto falta das festas e da noite carioca – simplesmente as melhores baladas e os melhores lugares.

A ida ao Estádio Diego Armando Maradona para um jogo de Libertadores entre o Fluminense e o Argentinos Juniores foi sensacional. Com direito a classificação chorada até o fim, 6 gols, briga entre jogadores, perseguição fora do estádio, correria de torcida organizada e presença da política… Típico do futebol sul-americano: desorganizado e emocionante.

Minha conclusão é a de que se se procura arte, cultura, dança, bons cafés e restaurantes, bela arquitetura e bonitas paisagens, então Buenos Aires é um destino certo. Agora, se o alvo é a noite, baladas e “as pessoas”, sugiro sair correndo para o mais longe possível. Nesse sentido, Santiago do Chile ainda me encanta, consegue aliar esses dois pontos, da cultura e da balada. Me deu uma vontade enorme de simplesmente pegar um vôo e voltar para a capital chilena onde fiz ótimos amigos e aproveitei tanto – não que em Buenos Aires não tenha aproveitado e gostado, mas foi diferente, os fatos não corresponderam às expectativas.

Outro “problema”: há brasileiros demais. E normalmente viajar para a América Latina poderia significar conhecer viajantes que procuram conhecer de fato a cidade, a cultura, a população, os modos de vida, etc. O que vi em Buenos Aires foi o típico viajante de classe média, o que viaja sem pretensão alguma de se encantar com um lugar diferente, que quer mais comprar bebidas no free shop que pagar por um vinho com amigos em frente ao Rio da Prata. O comentário pode ser tendencioso, mas também é baseado na minha experiência no Chile em que conheci a cidade andando todos os dias durante horas, pegando ônibus errado, conversando com os habitantes e ficando amigos de alguns, conhecendo refugiados colombianos, tomando várias garrafas de vinho diferentes por dia, dormindo na praia como se já fôssemos acostumados a fazer isso todo final de semana, etc. Minhas companhias eram excelentes, mas a cidade foi dominada por desordeiros brasileiros que buscam diversão barata, como se estivessem em seu país – digo, aqui mesmo.

Valeu a experiência, quem sabe na próxima vez não viajo o mais fora possível da alta temporada e tenho uma melhor impressão? No lloraré por ti, Argentina. Aún no.

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