Fico pensando em como o bullying sempre existiu e ninguém praticamente nunca deu a mínima. Se o post parecer um pouco auto-biográfico é por que talvez realmente o seja. Acho que no Brasil esses lugares comuns de povo tranquilo, pacífico e tolerante ajudou a tapar os olhos para o que sofre um grande número de crianças e adolescentes do país. E não digo que as crianças são malvadas (os adolescentes podem ser sim), mas considero que as pequenas ações preconceituosas e intolerantes que vão surgindo na tenra idade são reflexos da influência dos pais – retrógrados e conservadores, gente que não soube lidar com as diferenças e passou essa mesma experiência aos filhos.
As diferenças de gênero, sexualidade, cor de pele, timbre de voz, estilo musical, sociabilidade e qualquer coisa que se queira colocar numa relação de alteridade fazem com que muitas crianças e adolescentes sofram diariamente. E não é um sofrimento infantil, passageiro, é algo que consegue destruir a auto-estima de qualquer indivíduo, que cria traumas que permanecerão pela vida inteira se não forem devidamente cuidados. O clima de competição típico das sociedades ocidentais só acirra essa necessidade de ganhar e não apenas ganhar, mas vencer sobre o outro, ter certeza da derrota alheia, da humilhação. Penso eu: que mundo nojento é esse que construímos e aceitamos? Mais ainda, como podem tantos pais aceitar e incentivar esse tipo de prática no cotidiano, com cobranças que não condizem com o que seria um verdadeiro status de bem-estar e felicidade? É muito triste.
Só quem já sofreu o bullying sabe como dói. Ser taxado de algo que não se é ou simplesmente ter características suas tomadas como negativas por que alguém diz que assim é são fatos recorrentes. Acho que pelo menos assumir o sofrimento por esse tipo de coisa pode incentivar àqueles que tem filhos e aos que pretendem ter a ensiná-los a serem mais tolerantes com as diferenças, a respeitar o que não é igual e entender que a beleza do mundo se encontra justamente na diversidade, na cor e na possibilidade de pensarmos diferentes.
Tomar o mundo como um lugar pronto, fixo e sem a possibilidade da mudança é deixá-lo cinza, sem perspectiva e carente de criatividade. Prefiro ver o mundo como uma grande aventura, um grande espaço colorido diariamente, preenchido vagarosamente por bons sentimentos e pela atenção em relação ao outro, pela vontade de ajudar ao próximo. Prefiro acreditar que isso é possível, apesar das demonstrações diárias de ódio e alienação e evitar responder esse tipo de ação com a mesma moeda. Não aceitar passivamente, mas lutar ativamente: esse deve ser o norte de todos que acreditam que as próximas gerações podem se livrar do bullying de seu vocabulário.